Crítica | Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes - Não afeta e não estraga o legado da franquia, e serve diretamente como um fechamento de ciclo digno ao mostrar um passado necessário.

Divulgação | Paris Filmes

TítuloThe Hunger Games: The Ballad of Songbirds and Snakes (Título original)
Ano produção2022
Dirigido porFrancis Lawrence
Estreia
15 de novembro de 2023 (Brasil)
Duração 165 Minutos
Classificação14 - Não recomendado para menores de 14 anos
Gênero
Ação - Aventura - Drama
País de Origem
Estados Unidos 
Sinopse

No retorno a Jogos Vorazes, anos antes de se tornar o tirânico presidente de Panem, Coriolanus Snow aos 18 anos vê uma chance de mudança de sorte quando é escolhido para ser mentor de Lucy Gray Baird, a garota tributo do empobrecido Distrito 12.

• Por Daniel Pereira
• Avaliação - 7/10

Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes tem seu início anos antes da famosa Katniss Everdeen, onde somos conduzidos para a juventude de Coriolanus Snow (Tom Blyth), cuja história é contada ao lado da misteriosa Lucy Gray Baird (Rachel Zegler), sendo seu mentor e uma das mentes, que acaba envolvida com os jogos vorazes. Inicialmente somos diretamente impactados com a primeira cena, ambientada em um campo de guerra onde é possível presenciar as mazelas causadas pelo conflito que afetaram até mesmo a inabalável capital de Panem. Nesse primeiro momento vemos um Snow afetado pela guerra e pela perda, um órfão lutando por sua sobrevivência e do que restou de sua família. É interessante ver que mesmo na capital onde todos supostamente prosperam, existem aqueles que precisam se camuflar em um manto de mentiras, mantendo aparências enquanto vivem em uma situação análoga à dos distritos.

Os jogos são uma temática central e pode ser considerada a roda que faz o filme girar, mas a questão abordada é justamente a falta de interesse pelos jogos. Nesse cenário há uma capital que não demonstra qualquer apego aos infames jogos, e então surge a verdadeira motivação abordada no decorrer da história. Como tornar os jogos atrativos? O que falta para que as pessoas vejam? Notoriamente podemos fazer um paralelo com nossas vivências, afinal assistimos algo com o qual nos identificamos e criamos certo apego. A narrativa se constrói em cima disso, mostrando que mesmo com uma simples canção é possível se conectar com o público, fazer eles torcerem ao seu favor e se identificarem com sua jornada. Esse papel obviamente fica a cargo de Lucy Gray, cuja função é sobreviver através das instruções e ajuda de Snow, enquanto encanta toda a capital com seu talento vocal. A ligação entre ambos os personagens é ousada, ambos precisam um do outro para seus próprios propósitos, mas o aprofundamento dos sentimentos entre ambos não chega a ser algo palatável. Digamos que falta certa química, apesar dos atores se destacarem individualmente, mas quando juntos a dinâmica funciona melhor como aliados ao invés de um casal apaixonado.

Em meio a toda essa construção de sobrevivência, mentiras, traições e golpes, o cenário fica um pouco aquém do esperado. O pouco que é mostrado do distrito 12 não demonstra a real situação de vulnerabilidade retratada na história, mas há cenas em que rapidamente é possível ver a triste realidade por trás da cortina. Obviamente os jogos não são uma atração tão grandiosa, considerando que se trata da décima edição, sendo assim as lutas são extremamente rápidas e poucas são as mortes realmente marcantes, mas ainda assim consegue render cenas que realmente trazem impacto e fazem jus ao título do filme.

Divulgação | Paris Filmes 

Como esperado o filme aborda diretamente a transformação de Snow, o levando para diversas situações que começam a moldar sua moralidade e a distância do jovem que costumava ser. Um ambiente realmente pode mudar um homem desesperado, e em cada momento podemos acompanhar Snow deixando cada pedaço de seu antigo eu para trás, até que ele se torna o homem que é o perfeito reflexo de sua figura paterna. Infelizmente o terceiro ato é um tanto corrido, com resoluções não tão agradáveis e que deixa algumas questões em aberto. Notoriamente essas questões podem ser respondida no livro, mas para aqueles que apenas vão conhecer a história pelo filme, ficarão com algumas dúvidas que não foram devidamente sanadas.

A incomparável Dra. Volumnia Gaul (Viola Davis) assume um papel direto como mentora de Snow, e a principal idealizadora dos jogos. A personagem sem sombra de dúvidas é o maior acerto do filme, e suas cenas são impecáveis carregadas de uma imponência que cativa. Apesar desse grandioso destaque, os demais personagens carecem de um melhor desenvolvimento, como é o caso de Tigris (Hunter Schafer) que tem poucas aparições e não consegue ser uma personagem tão marcante, devido à falta de aprofundamento e tempo de tela. O mesmo acontece com Casca Highbottom, personagem vivido por Peter Dinklage, cujas aparições são poucas, mas apesar de tudo consegue entregar cenas interessantes de conflito com Snow. Não poderia deixar de destacar a atuação exemplar de Tom Blyth que entrega um personagem palpável, e cujo desenvolvimento ocorre de maneira perceptiva, clara e coesa para o público criando um protagonista que entrega verdadeiramente a essência do personagem. Pessoalmente Rachel Zegler foi uma surpresa agradável no decorrer do filme, entregando cenas com canções que fazem sentido no cenário, e em determinados momentos sua atuação permite ao público ver algumas camadas da personagem, mas tudo é tão rápido que não abre margem para a criação de uma conexão verdadeira com Lucy Gray.

Sendo sincero, o filme não afeta e não estraga o legado da franquia Jogos Vorazes, e serve diretamente como um fechamento de ciclo digno ao mostrar um passado necessário, e que nos permite entender melhor toda a construção do sistema que vemos no futuro. Para os fãs mais fiéis da saga, há muitas referências que lhes deixarão felizes, assim como também fiquei, principalmente por acompanhar a saga antes mesmo dos filmes. Para aqueles que nunca viram qualquer filme da saga fiquem tranquilos, pois Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes serve como um ponto de partida, e os deixará curiosos para assistir os outros filmes do universo. Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes é o complemento de uma obra que se encerra com chave de ouro.

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