Crítica | Guerra Civil - Um alerta salpicado de sangue que Alex Garland mostra em toda a sua crueza.

Divulgação | Diamond Films

TítuloCivil War (Título original)
Ano produção2023
Dirigido porAlex Garland
Estreia
18 de abril de 2024 (Brasil)
Duração 109 Minutos
Classificação18 - Não recomendado para menores de 18 anos
Gênero
Drama - Guerra
País de Origem
Estados Unidos 
Sinopse

Em um futuro não tão distante, quando uma guerra civil se instaura nos Estados Unidos, uma equipe pioneira de jornalistas de guerra viaja pelo país para registrar a dimensão e a situação de um cenário violento que tomou as ruas em uma rápida escalada, envolvendo toda a nação. No entanto, o trabalho de registro se transforma em uma guerra de sobrevivência quando eles também se tornam o alvo.

• Por Alisson Santos
• Avaliação - 8/10

A certa altura, a política para e a luta começa. E esse é motivo principal de Guerra Civil do roteirista e diretor Alex Garland existir, não antes que a divisão política se torne insustentável, mas depois do fato, não em debates televisionados e no meio de protestos, mas em cidades e bairros já em ruínas, não para inflamar paixões ideológicas, mas olhar para a realidade cruel de um futuro cada vez mais possível. O diretor oferece apenas traços gerais de sua história de fundo. O governo dos Estados Unidos tem estado em guerra com os separatistas da Califórnia e do Texas, conhecidos como Frente Ocidental e representados por uma bandeira dos Estados Unidos com duas estrelas. A Flórida também se rebelou, tentando levar consigo as Carolinas do Norte e Sul. A causa da secessão nunca é declarada, apenas presumida, e a duração da guerra no ponto em que entramos na história é indefinida. A nebulosidade da história por trás deste filme é um dos seus grandes pontos fortes, porque nos obriga, não a tomar partido ou a tentar considerar moral e legalmente as causas desta guerra civil, mas a vivê-la através das lentes de jornalistas. 

Lee Smith (Kirsten Dunst) é uma fotojornalista que, ao longo dos anos, cobriu muitas regiões devastadas pela guerra em todo o mundo. Agora ela e seu colega Joel (Wagner Moura) cobrem uma região devastada por uma guerra civil que provavelmente nunca imaginaram: os Estados Unidos. Determinados a ter um encontro com o presidente antes da sua inevitável queda, eles partem de Nova York para Washington, D.C. Pegando carona com eles, está Sammy (Stephen McKinley Henderson), um veterano do The New York Times e ex-mentor de Lee. Eles também acabam com um quarto passageiro, Jessie (Cailee Spaeny), uma fotojornalista iniciante que idolatra Lee. Como não existe mais uma rota direta para Washington, D.C., sua jornada os leva por um caminho indireto, repleto de muitos perigos inerentes à guerra e à desconfiança.

Divulgação | Diamond Films 

Guerra Civil é um filme de conjunto, mas Kirsten Dunst é a cola que mantém tudo unido. Os momentos tranquilos de sua personagem Lee refletindo sobre suas experiências passadas em zonas de conflito são os que mais causam impacto, ela é uma mulher atormentada pelas imagens capturadas pela sua lente. Ela e Jessie formam uma espécie de vínculo mentor/pupilo, Lee fazendo o possível para preparar a fotógrafa mais jovem para as paisagens que a aguardam. Essa dinâmica se desenrola de maneira assustadora e inquietante, especialmente no final do filme.

Eu sei que haverá críticas ao cenário político pouco claro do filme. É certo que nunca se compreende realmente porque Califórnia e o Texas se uniram como Frente Ocidental para se separarem dos Estados Unidos. A distinção entre “bandidos” e “mocinhos” é confusa, mas acho que esse é o objetivo do filme. Quando um país adere um conflito civil localizado, o Estado de direito e a comunidade desaparecem. Em uma cena importante, um atirador está atirando no grupo de Lee e em alguns soldados. Os soldados não estão preocupados com o “lado” do atirador… porque, bem, o maior problema é que ele está atirando neles, ponto final. O diretor respeita claramente o conceito de objetividade jornalística, a nobreza casual de deixar de lado a própria política para capturar até os momentos mais feios da história. À medida que a viagem do grupo se torna cada vez mais perigosa, cada nova vinheta revela outra fatia horrível da humanidade, vemos o seu efeito até mesmo nos observadores mais imparciais. Eu vejo essa falta de postura política do filme com um reflexo do nosso desejo de que os filmes sempre escolham um lado, quando a mensagem maior é sobre diferenças e ser tão rápido em escolher lados é o que pode nos levar ao conflito.

Divulgação | Diamond Films 

A intensidade implacável do filme nunca diminui ou se torna monótona. Eu fiquei totalmente imerso nas cenas de conflito. A forma como é filmado, elevado pelos alto-falantes Dolby de uma sala IMAX, fazem com que parecesse que as balas estavam realmente voando sobre minha cabeça. Criou uma experiência visceral no cinema, fazendo eu me se sentir como um combatente. 

Mas o que realmente torna Guerra Civil diferente de qualquer outro filme sobre conflitos. É o quanto ele é desconfortável por mostrar esse horror reconhecível. Obviamente, usando esse cenário dos Estados Unidos, mas que também enxergamos no nosso próprio país. Ele parece um filme profético, mostrando que o mal e a queda da humanidade, tal como a conhecemos, podem não ser resultado de um acontecimento externo, mas da fraqueza dos atuais sistemas políticos. Um alerta salpicado de sangue que Alex Garland mostra em toda a sua crueza.

Guerra Civil estreia em 18 de abril nos cinemas nacionais.

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