Crítica | Fallout - É muito difícil contar uma história original que está profundamente enraizada na mitologia que a inspirou, é uma tarefa que poucos conseguiram realizar com sucesso e aqui eles alcançaram com louvor.

Divulgação | Prime Video

Título	Fallout (Título original)
Ano produção	2022
Dirigido por	Jonathan Nolan, Clare Kilner, Frederick E.O. Toye, Daniel Gray Longino e Wayne Yip
Estreia	10 de abril de 2024 (Mundial)
Duração	8 Episódios
Classificação	16 - Não recomendado para menores de 16 anos
Gênero	Ficção Científica - Ação - Aventura
País de Origem	Estados Unidos

Sinopse

A terceira guerra mundial estourou entre os Estados Unidos e a China - mas durou apenas algumas horas, com um bombardeio de mísseis nucleares caindo sobre os EUA. Duzentos anos depois, o que restou da humanidade vive em confortáveis abrigos nucleares construídos por uma empresa de tecnologia chamada Vault-Tec. Os moradores das Vaults não sabem que lá fora, a vida deu um jeito de continuar, com mutantes e sobreviventes lutando contra monstruosidades que vagam pela superfície desolada conhecida como Wasteland.

• Por Alisson Santos

• Avaliação - 9/10

Eu nunca fui alguém que era fissurado em videogame, mas tive meus momentos em diversos consoles: Nintendo 64, Sega, Playstation. Adorava jogos como Command & Conquer: Red Alert, Diablo e Fallout. E Fallout me agarrou desde a abertura cinematográfica, mostrando uma TV no estilo dos anos 1950 e música retrô enquanto a câmera se afastava para mostrar uma paisagem apocalíptica nuclear. Fiquei fisgado e, nos anos seguintes, esperei pacientemente que alguém fizesse uma adaptação digna. Fico feliz em dizer que Jonathan Nolan e os produtores Geneva Robertson-Dworet e Graham Wagner capturaram os temas visuais e tonais de Fallout enquanto se aventuravam em uma narrativa completamente original dentro do cânone da franquia. Fallout é o novo padrão de qualidade para adaptações de jogos.

Jonathan Nolan abre a série com uma espiada no passado antes de nos enviar dois séculos no futuro. Sem perder tempo, a série avança para o interior do Vault 33, onde conhecemos Lucy Maclean (Ella Purnell). Sem estragar o que se segue, Lucy deve se armar em uma sequência que me lembrou Samara Weaving em Casamento Sangrento para uma violenta jornada que em breve a colocará em um caminho fora do Vault em busca de seu pai Hank (Kyle McLachlan). Mas a história de Lucy é apenas o começo.

Divulgação | Prime Video 

O brilho de Fallout é o equilíbrio de múltiplas histórias. Os produtores executivos Jonathan Nolan e sua esposa, Lisa Joy, conseguiram conciliar vários personagens e arcos narrativos em Westworld. Ainda assim, Fallout conecta histórias muito distintas em uma série coesa. Essa façanha reúne Cooper Howard (Walton Goggins) e sua transformação no Ghoul/Necrótico, Lucy Maclean e sua busca por seu pai, e Maximus (Aaron Moten), um escudeiro da Irmandade do Aço. Todos os três personagens se conectam no início da série com objetivos que os farão cruzar caminhos diferentes ao longo da primeira temporada. À medida que se aventuram de Vaults para cidades, colônias e muito mais, a série apresenta um elenco enorme, incluindo Dale Dickey, Sarita Choudhury, Leslie Uggams, Chris Parnell, Zach Cherry e algumas participações especiais criativas que eu não esperava. Há também um papel coadjuvante importante de Michael Emerson, cuja introdução no segundo episódio é uma sequência sem diálogos que é tão emocionalmente ressonante quanto a abertura de Up: Altas Aventuras da Pixar. Você entenderá o que quero dizer assim que assistir.

Depois de assistir toda primeira temporada, o que mais me impressionou foi o equilíbrio entre drama e comédia. Fallout tem um senso de humor ácido, assim como os jogos, mas também se leva a sério o suficiente para nunca parecer bobo demais. A série também é incrivelmente violenta, com algumas sequências visualmente impressionantes. Como Westworld, Fallout combina uma grande quantidade de efeitos visuais com filmagens em locações reais para oferecer um ambiente tangível que parece realmente existir. O trabalho de maquiagem é impressionante, especialmente no rosto de Walton Goggins como Ghoul. Os trajes físicos da Irmandade do Aço parecem cafonas, mas são extremamente fiéis. Desde os Pip-Boy aos trajes da Vault-Tec até a variedade de armas ao longo da série, Fallout é meticulosamente construída para agradar os fãs. Mas, por mais que a série evoque os jogos, é mais do que tudo uma grande experiência cinematográfica. O escopo e a escala desta história dependem tanto de tornar o mundo crível quanto de beneficiar o bom trabalho conjunto do elenco. Embora Walton Goggins se destaque em qualquer papel para o qual é escalado, ele é especialmente impressionante como Ghoul. Com uma história trágica e um arco de desenvolvimento fantástico, Goggins acerta demais nesse papel. Ella Purnell e Aaron Moten também compartilham uma ótima química como Lucy e Maximus, algo facilmente aparente em sua primeira cena juntos.

Divulgação | Prime Video 

Embora o nome de Jonathan Nolan esteja em todo o marketing, ele e Lisa Joy atuam como produtores executivos da série. Nolan não tem créditos de roteiro na série, apesar de dirigir os três primeiros episódios. Os cinco episódios restantes foram dirigidos por Clare Kilner, Frederick E.O. Toye, Daniel Gray Longino e Wayne Yip. Ainda assim, o olhar de Nolan por trás da câmera define o visual da série, acentuado pela trilha sonora de Ramin Djawadi, que, assim como os jogos, combina música ocidental e épica. Há também muitas músicas retrô, inclusive algumas dos jogos, que contribuem para a aura da série. Geneva Robertson-Dworet e Graham Wagner lideram a equipe de roteiristas, incluindo Chaz Hawkins, Karey Dornetto, Kieran Fitzgerald, Carson Mell e Gursimran Sandhu. Eles extraem tantos elementos dos jogos que você pode ficar minutos tentando encontrar conexões com personagens e cenários da franquia de três décadas. Como Fallout não é uma cópia, o roteiro tem muito mais liberdade para ser criativo e original sem perder o fio condutor principal.

É muito difícil contar uma história original que está profundamente enraizada na mitologia que a inspirou, é uma tarefa que poucos conseguiram realizar com sucesso e aqui eles alcançaram com louvor. Ao combinar a construção do mundo do jogo com um elenco de primeira linha, Jonathan Nolan fez pelas adaptações de jogos o que seu irmão fez pelos filmes de super-heróis. Não há como os fãs de Fallout ficarem desapontados com essa adaptação, que está repleta de easter eggs, ao mesmo tempo que permite que aqueles que não estão familiarizados com este mundo consigam se conectar. O Prime Video tem um novo sucesso em mãos e Fallout permanecerá por aí nos próximos anos.

Todos os episódios da primeira temporada de Fallout já estão disponíveis no Prime Video.