Crítica | O Menino e a Garça - Uma celebração dos melhores traços do estilo de Miyazaki e um filme que lembra aquela obra-prima que foi A Viagem de Chihiro.

Divulgação | Sato Company

TítuloKimitachi wa Dō Ikiru ka (Título original)
Ano produção2023
Dirigido porHayao Miyazaki
Estreia
22 de fevereiro de 2024 (Brasil)
Duração 124 Minutos
Classificação12 - Não recomendado para menores de 12 anos
Gênero
Animação - Drama
País de Origem
Japão
Sinopse

Depois de perder a sua mãe num incêndio, Mahito, um jovem rapaz de 11 anos, é obrigado a deixar a cidade de Tóquio para voltar para a aldeia onde cresceu. Ele instala-se com o seu pai numa velha mansão situada numa imensa propriedade onde ele se cruza com uma garça que aos poucos se torna a sua guia e o ajuda nas suas descobertas e questionamentos para compreender o mundo ao seu redor e desvendar os mistérios da vida.

• Por Alisson Santos
• Avaliação - 9/10

O lendário e brilhante diretor de Meu Amigo Totoro (1988), Princesa Mononoke (1997), A Viagem de Chihiro (2001), O Castelo Animado (2004), Ponyo: Uma Amizade que Veio do Mar (2008) e Vidas ao Vento (2013) voltou após uma década de ausência com um filme extraordinário digno de seu talento e da grande história do Studio Ghibli. O Menino e a Garça é uma celebração dos melhores traços do estilo de Miyazaki e um filme que lembra aquela obra-prima que foi A Viagem de Chihiro.

Mahito, um menino que perdeu a mãe na Segunda Guerra Mundial, muda-se para uma velha mansão no campo com o pai para se refugiar. Ali, sua atenção é despertada pela presença de uma garça, que a princípio parece graciosa, com as pernas finas balançando na água, mas que logo revela um tom profundamente perturbador, devido ao seu olhar desconfiado e ao seu bico protuberante. A maneira como Miyazaki faz a transição de um tom para outro é comovente. A placidez da natureza dá lugar ao gótico, e a realidade dos vivos abre-se para um outro mundo que o cineasta mais uma vez concebe de uma forma muito próxima do universo de Alice no País das Maravilhas.

Divulgação | Sato Company

Mamoru Hosoda a Makoto Shinkai, alguns dos grandes mestres da animação japonesa recente, também mergulham na transição entre universos. Cada um tem, porém, seu visual. E nenhum é como o de Miyazaki, capaz de desenhar figuras grotescas que beiram o aterrorizante, e depois caminham para uma doçura fabulística. O extravagante sempre se revela como algo natural, como a própria garça, que tem uma perturbadora dentição dentro do bico. O amor pelo grotesco faz de Miyazaki um cineasta único, não só pelo seu universo visual, mas também pela sua confiança em partir de imagens aterrorizantes para alcançar a beleza e a emoção.

Ninguém desenha como Miyazaki, que revela os contornos do luto a partir não só da trajetória de seu protagonista, mas também da expressividade de suas imagens; principalmente, na cena de abertura do filme, em que as chamas queimam a tela através de pinceladas esparsas, que por vezes beiram a abstração. A plasticidade deixa ao mesmo tempo um resíduo doloroso, o do horror; e as memórias dos desastres de Hiroshima e Nagasaki se instalam, como um sedimento que perdura ao longo de um filme tão doloroso quanto doce e belo. Com um enredo que transcende as barreiras entre os vivos e os mortos, O Menino e a Garça emociona e envolve, explorando os temas complexos da existência humana.

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