Crítica | Napoleão - Aqueles que desejam uma precisão histórica rigorosa e rígida, certamente irão se decepcionar, mas para quem deseja ver um cineasta fazendo o que quiser com uma figura histórica na maior tela possível, Napoleão é um prato cheio.

Divulgação | Sony Pictures
TítuloNapoleon (Título original)
Ano produção2022
Dirigido porRidley Scott
Estreia
23 de novembro de 2023 (Brasil)
Duração 159 Minutos
Classificação16 - Não recomendado para menores de 16 anos
Gênero
Ação - Aventura - Drama
País de Origem
Estados Unidos 
Sinopse

As origens do comandante militar Napoleão e sua rápida ascensão. Uma visão através do prisma de seu relacionamento e muitas vezes volátil com sua esposa e por ser amor verdadeiro, Joséphine.

• Por Alisson Santos
• Avaliação - 6/10

Joaquin Phoenix é Napoleão Bonaparte na representação de Ridley Scott sobre a ascensão do famoso líder militar e ditador ao poder e sua rápida queda em desgraça. Essa é a versão curta e sem nuances da história de Napoleão Bonaparte, e embora haja muitos indignados com as imprecisões históricas do filme, é aí que Ridley Scott encontra a essência de sua história. Napoleão não é sobre o homem em si, mas sim sobre a pessoa que esse personagem vê em sua própria mente. Napoleão não é um filme que quer dizer “aqui estava um homem com algumas boas ideias, mas era uma pessoa má”, mas sim o retrata como um estrategista ocasionalmente brilhante que continuamente fazia escolhas ruins e egoístas.

No roteiro de David Scarpa, os sucessos de Napoleão Bonaparte são retratados como uma combinação de golpes políticos e muita sorte, e não o direito arduamente conquistado à grandeza que Napoleão pensava ter direito. Ele pensa que é a resposta da França a gente como Júlio César e Alexandre, o Grande, e Ridley Scott vai provar que o homem estava meio certo, na medida em que eram tiranos também destruídos por sua própria arrogância, que também não eram particularmente amados. Por mais ameaçador, implacável e indiferente que Napoleão Bonaparte de Joaquin Phoenix pareça, ele também tem a capacidade de parecer um pirralho caricatural, sem noção e petulante.

Como tal, Ridley Scott se diverte muito com esse personagem, inclinando-se para o humor que surge naturalmente, mas inquestionavelmente sombrio, no cerne do roteiro. Os paralelos entre Bonaparte e a forma como outros líderes mundiais se comportam nos tempos modernos são inevitáveis, por isso o diretor só está disposto a levar Napoleão a sério até um ponto finito. Levar a sério os crimes de guerra e as loucuras de Napoleão glorificaria ainda mais alguém que não merece tal estatuto. E essa é uma escolha que vai causar raiva em historiadores e admiradores dos feitos de Napoleão, Ridley Scott se propõe a tornar muitas das façanhas militares tão bizarras e ridículas quanto possível. O humor e o desejo de destruir a mitologia em torno de Napoleão é interessante, mas também causam uma desconexão com o resto do filme, que é montado como um épico de guerra bastante comum. Ridley Scott é um mestre talentoso quando se trata de representar sequências de batalhas em grande escala, mas a quantidade de tempo dedicado a elas em Napoleão chega a ser exaustiva, especialmente aquelas em que os espectadores com mentalidade histórica já conhecem os resultados. No momento em que o roteiro foca na abdicação e no exílio de Napoleão, tudo o que é interessante já seguiu seu curso, e o filme acaba repetindo seus mesmos pontos e paralelos.

Divulgação | Sony Pictures 

Mas por mais cansativo que Napoleão seja, o filme nunca é chato ou feio de se ver. Os detalhes do período são excepcionais, a belíssima fotografia é apropriadamente esfumaçada e, mesmo no seu estado mais caótico, o diretor de fotografia é incapaz de apresentar uma imagem abaixo da média. Mesmo em sua forma mais feia e vil, a representação de Ridley Scott de uma realeza um tanto sortuda e imerecida tem uma imponência que condiz com a mentalidade psicológica de um personagem principal narcisista. Napoleão é um filme excepcionalmente bonito sobre um homem excepcionalmente feio.

Joaquin Phoenix uma performance comum para o nível dele, mas é muito por conta do texto e dessa escolha por ridicularizar Napoleão. Muitas vezes parando antes de falar, em uma tentativa de afirmar superioridade intelectual sobre qualquer pessoa à sua frente, o ator retrata Napoleão como alguém que perdeu seu senso de tato, mas pode ocasionalmente ter brilhos diabólicos no campo de batalha. Mas talvez o maior problema dessa ridicularização, seja os momentos de Joséphine e Napoleão. Simplesmente não há química entre Vanessa Kirby e Joaquin Phoenix, e isso acaba por tornar infuncional essa tentativa de ridicularizar esse romance.

Napoleão é um filme difícil de definir, aqueles que desejam uma precisão histórica rigorosa e rígida, certamente irão se decepcionar, mas para quem deseja ver um cineasta fazendo o que quiser com uma figura histórica na maior tela possível, Napoleão é um prato cheio.

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