Crítica | BlackBerry - Como uma comédia romântica que passa a primeira metade reunindo os personagens antes de mostrar a feiúra que às vezes acontece quando “felizes para sempre” se torna impossível, BlackBerry é um filme fascinante.

Divulgação | Diamond Films

TítuloBlackBerry (Título original)
Ano produção2022
Dirigido porMatt Johnson
Estreia
12 de outubro de 2023 (Brasil)
Duração 120 Minutos
Classificação12 - Não recomendado para menores de 12 anos
Gênero
Comédia - Drama
País de Origem
Canadá 
Sinopse

BlackBerry mostra como a tecnologia criada por Mike Lazaridis e Douglas Fregin, aliada ao dinheiro e a experiência do empresário Jim Balsillie (Glen Howerton), transformou completamente a forma como as pessoas se comunicavam em 1996. No entanto, em poucos anos, segredos obscuros, disputas pessoais e, o maior perigo de todos, a chegada do iPhone, ameaçam o incrível sucesso da companhia.

• Por Alisson Santos
• Avaliação - 9/10

A maioria das pessoas com mais de 20 anos se lembra da ascendência do BlackBerry, um dispositivo que já foi tanto um símbolo de status quanto uma ferramenta útil. Eu nunca tive um. Embora o BlackBerry tenha governado o mercado durante o início dos anos 2000 (aproximadamente de 2002 a 2008), eu estava contente em usar um celular leve e discreto até fazer a transição para os celulares sem teclas. Por volta de 2005, porém, a marca BlackBerry era onipresente na indústria de telefonia celular e todo mundo aparentemente tinha um. 

O filme não pretende ser uma crônica abrangente da ascensão e queda. Em vez disso, concentra-se em três períodos específicos: o desenvolvimento do primeiro modelo do BlackBerry (final da década de 1990), um aumento técnico e de vendas usado para repelir uma oferta pública de aquisição hostil em 2003 e a competição que se seguiu com a Apple quando Steve Jobs apresentou o iPhone. Muitos eventos e personagens foram ficcionalizados para criar uma história melhor, mas a trajetória do escopo do roteiro reflete com precisão os fatos. E, embora seja completamente diferente de ambos, algumas partes ecoam aspectos de A Rede Social e A Grande Aposta.

O filme começa com uma introdução aos cofundadores da RIM, Mike Lazaridis (Jay Baruchel) e Doug Fregin (Matt Johnson), enquanto eles apresentam seu mais recente dispositivo, um pager interativo, ao empresário Jim Balsillie (Glenn Howerton). Balsillie inicialmente não fica impressionado e expulsa a dupla porta afora, mas, quando mais tarde é demitido do emprego, ele os procura com uma oferta para se tornar um parceiro financeiro e co-CEO. Reconhecendo que não possui o conhecimento empresarial necessário para tornar a RIM um sucesso, Mike faz uma contraproposta que Jim aceita. Uma vez integrado, a sua abordagem direta e objetiva, contrasta com a atmosfera descontraída do longa, criando um equilíbrio perfeito.

Divulgação | Diamond Films

BlackBerry é um filme que busca fazer o espectador apreciar a dinâmica que caracteriza o ciclo de vida da empresa. Uma vez aliviada a pressão para o sucesso, instala-se a estagnação e, nesse ponto, a decadência torna-se irreversível. As inovações no mundo da tecnologia só são boas até que outra empresa as supere – algo que raramente leva muito tempo. A metodologia empregada por Mike para contornar as restrições da rede de telecomunicações em 2003 – algo considerado inovador – rapidamente ficou desatualizada. A afirmação arrogante de Mike de que a Apple nunca seria capaz de entregar a experiência de um BlackBerry, torna-se sua ruína.

As atuações dos três atores principais levam a caracterizações eficazes de um trio de indivíduos muito diferentes. Jay Baruchel, mais conhecido por seu trabalho no universo dos filmes de comédia de Judd Apatow/Seth Rogen, captura a estranheza inerente de um gênio da tecnologia forçado a ser o rosto público de um produto emergente. Glenn Howerton imbui em Jim Balsillie um foco corporativo e descontrole emocional. E Doug Fregin, de Matt Johnson, é tão descontraído e solidário quanto parece. (Na vida real, Doug Fregin foi de longe o mais bem-sucedido financeiramente dos três, tendo liquidado a maior parte de suas participações na BlackBerry antes de a empresa entrar em queda livre) Rostos reconhecíveis Michael Ironside, Martin Donovan e Cary Elwes ocupam papéis coadjuvantes.

Como AIR: A História Por Trás do Logo, outro lançamento de 2023 que detalha o desenvolvimento difícil de um produto icônico, BlackBerry abre a cortina para dar aos espectadores uma perspectiva completa do que aconteceu nos bastidores. Ao contrário de Air, porém, o filme não termina com seus personagens aproveitando os frutos de seu árduo trabalho. Como uma comédia romântica que passa a primeira metade reunindo os personagens antes de mostrar a feiúra que às vezes acontece quando “felizes para sempre” se torna impossível, BlackBerry é um filme fascinante.

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