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• Por Alisson Santos
A mente adormecida me fascina, ou seja, as alucinações noturnas que chamamos de 'sonhos'. Por causa disso, mantenho um diário para registrar cada pensamento que passa pelo meu cérebro à noite. Ajusto pelo menos um alarme por dia para poder acordar durante meus ciclos e relembrar meus sonhos mais grandiosos. Às vezes eu adormeço novamente, mas na maioria das vezes, eu acompanho essa rotina. Tem sido uma experiência esclarecedora e, até agora, preenchi uma dúzia de cadernos com minhas aventuras noturnas.
Além de catalogar meus sonhos, estudo o fenômeno. Dissequei todos os guias do sono à minha disposição e assisti a inúmeros documentários. Eu até fiz um podcast chamado “Fantasias Noturnas”, embora tenha durado apenas alguns meses (não havia ouvintes suficientes compartilhando minha afinidade com o tópico). Em outras palavras, a maior parte da minha vida desperta é consumida pelo sono, de uma forma ou de outra.
Desejando mais conhecimento sobre o assunto, recentemente examinei a enorme seção de autores desconhecidos para encontrar uma obra sobre o tópico. Depois de passar por uma infinidade de romances, me deparei com um título que chamou minha atenção: “Táticas de sono: exercícios para uma mente em repouso ”, escrito por Jack Grovewood. A sinopse no verso era vaga e lembrava um livro de autoajuda com citações como “Aprenda os segredos para uma boa noite de descanso” e “Alimente o apetite insaciável de sua mente por melhor compreensão”. Não é um livro sobre sonhos, em si, mas despertou meu interesse.
Aprofundando o livro em casa, descobri que era mais para mim do que eu esperava anteriormente. Estava cheio de capítulos referentes a sonhos lúcidos, meditação e até mesmo sonambulismo. Eu já conhecia a maior parte do conteúdo, mas acabou sendo uma leitura agradável. Não foi até o último capítulo, porém, que fui pega completamente desprevenida. Vou descrever a maior parte abaixo:
Capítulo 16: “Como Sair do Seu Corpo”
Conforme declarado no Capítulo 8: “Fora do corpo, fora da cama”, eu acredito em experiência fora do corpo, mas acho que elas são apenas outra forma de sonhar. O que estou prestes a divulgar a vocês é algo completamente diferente. Esta é uma maneira de realmente sair do seu corpo usando a paralisia do sono como catalisador.
Antes de discutir os detalhes, gostaria de passar por alguns pré-requisitos.
Para conseguir isso, você deve ser proficiente em sonhos lúcidos. O que quero dizer com isso é que você precisa ter sonhos lúcidos regularmente e manter a lucidez por longos períodos de tempo nesses sonhos. Também ajuda se você conseguir manipular o ambiente dos seus sonhos com facilidade. Se você só sonha lúcido de vez em quando, terá que treinar sua mente para fazê-lo com mais frequência. Se você, no entanto, é incapaz de sonhar lúcido, então esta técnica não é para você. Não é nada pessoal. Você simplesmente não tem as ferramentas necessárias para a partida.
Outro requisito é a paralisia do sono. A maioria de nós já passou por isso uma vez ou outra, mas ajudará imensamente se você passar por isso regularmente. Juntamente com lucidez e uma mente focada, a paralisia do sono é a única maneira de sair de sua própria pele, por assim dizer. Agora, para a parte divertida. Vou apresentar isso passo a passo, seguido de uma explicação mais detalhada do que esperar ao alcançar sua primeira partida. Tenha em mente que os resultados podem variar.
PASSO UM
Adormeça, de costas, em posição inclinada. Pode ser em uma poltrona reclinável, mas seu corpo deve estar na diagonal em relação ao nível do solo. Essa é a única maneira que eu já fui capaz de fazer isso funcionar. Por uma razão ou outra, a gravidade desempenha um papel.
PASSO DOIS
Alcance a paralisia do sono. Este é mais um jogo de espera do que um passo, pois não é totalmente possível executar à vontade. Quando isso acontece, a lucidez é fundamental. Você deve estar ciente de que está em um estado de paralisia do sono e não ter medo de sua falta de mobilidade. Essa é uma das maneiras pelas quais ser um sonhador lúcido é útil.
PASSO TRÊS
Uma vez paralisado, tente mover as pernas. Se você estiver na posição correta, pelo menos uma delas deve ser móvel. Se você não conseguir mover nenhuma das pernas, terá que reiniciar e experimentar inclinando o assento em diferentes posições.
PASSO QUATRO
Ao liberar uma ou mais pernas, tente liberar os braços. Eles vão se sentir incrivelmente rígidos, e você não deve ser capaz de movê-los, por mais que tente. Você deve então sentir uma picada afiada em sua cabeça. Não se assuste, você não está tendo um aneurisma. Isso é completamente normal e é necessário para fazer sua saída.
PASSO CINCO
Por mais difícil e extenuante que seja, continue tentando libertar seus braços. Ao fazer isso, tente mover o resto do corpo também. Coloque tudo que você tem na luta contra a paralisia. Só não volte a dormir.
PASSO SEIS
À medida que você luta com sua mente e corpo, a sensação de ardor em seu cérebro vai crescer. Não será doloroso, mas causará um grande desconforto. Deixa acontecer. À medida que a sensação aumenta, você começará a se sentir se afastando do corpo. Não lute contra isso. Sua mente é como um elástico e vai querer se recuperar de onde está sendo esticada. Não deixe. Siga o fluxo de partida. Se você fortalecer o foco de sua mente e seguir essas instruções à risca, você terá saído com sucesso de seu saco de carne terrestre e desbloqueado uma maravilha da mente que apenas começou a ser compreendida.
E essa é a essência disso. O autor continuou dizendo que o mundo em que você se encontra ao partir terá algumas diferenças em relação ao que você começou. Parecerá semelhante em quase todos os aspectos, mas será completamente desprovido de qualquer forma de vida. Acima disso, nada vai ceder. Tudo permanecerá em seu lugar, o mais imóvel possível. Depois de revelar o delicado processo de reentrar no corpo, o autor encerra o capítulo com um aviso:
Faça o que fizer, não se aproxime da água.
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Cerca de uma semana se passou antes que eu pensasse sobre o livro novamente. Estava quase na hora de devolvê-lo à biblioteca, então decidi reler seu capítulo final. Por mais absurdo que parecesse, eu oscilava entre rir e realmente dar uma chance. Eu preenchia todos os requisitos, e isso me divertiria um pouco. Eu poderia, no mínimo, dizer que tentei por mim mesmo, se não por outro motivo senão para provar que era um monte de porcaria.
Depois de pesar os prós e os contras, acabei cedendo à minha curiosidade. Eu sabia que não ia funcionar, mas seria um pequeno experimento divertido, se nada mais. Além disso, havia realmente algo melhor para eu fazer durante um episódio de paralisia do sono ? O único incômodo menor era que eu teria que dormir em uma de minhas poltronas reclináveis em vez de no conforto do meu colchão. Um pequeno preço a pagar pela descoberta científica, suponho.
Na noite em questão, acabei tendo três episódios de paralisia do sono. Durante o primeiro, eu estava muito grogue. Eu esqueci completamente do livro e rapidamente adormeci. O segundo durou um pouco mais, e consegui me lembrar dos passos descritos no capítulo anterior. Eu mal conseguia mover uma das minhas pernas e, ao tentar meus braços, senti um pequeno, mas perceptível desconforto na minha cabeça. Eu me perguntei por uma fração de segundo se o autor estava certo e isso me deixou um pouco animado. Por causa disso, acordei.
Refletindo sobre o incidente, fiquei intrigado. Eu ainda não acreditava que poderia “sair do meu corpo”, mas sabia que algo estava acontecendo. Eu decidi inclinar a cadeira um pouco para trás e tentar novamente. Desta vez, eu teria melhor controle. O próximo episódio veio bem rápido. Eu não tinha adormecido ainda, mas meu corpo estava se preparando para isso. “É isso”, pensei. Eu permiti que a paralisia se instalasse completamente antes de tentar qualquer coisa. Foi difícil não adormecer, mas consegui. Desta vez, consegui ganhar controle total sobre minha perna esquerda. Eu a movi para frente e para trás algumas vezes antes de tentar libertar meus braços. Fiel ao método, eles não se mexiam e pareciam estranhamente rígidos.
Foi quando a dor na cabeça se instalou. Isso me abalou, mas continuei. Quanto mais eu tentava mover meus braços, maior a dor crescia. Acredite ou não, enquanto eu continuei, eu realmente me senti me afastando do meu corpo. Tentei continuar, mas meus nervos me dominaram. Perdi todo o controle por um momento e fui sugada de volta para o meu corpo, acordando imediatamente no processo. Essa experiência me assustou pra caramba. Estava começando a parecer cada vez mais provável que o último capítulo do livro de Jack Grovewood fosse de alguma forma preciso. Minha curiosidade foi despertada a tal ponto que senti a necessidade irresistível de contar a alguém sobre isso. Felizmente, eu conhecia exatamente a pessoa.
Meu amigo Geovane. Ele acredita em muito do que eu não acredito. Isso nos faz bater de frente em muitos tópicos. Em termos simples, eu sou um cético e ele é um crente. Uma coisa em que podemos concordar, no entanto, é o nosso amor pelos sonhos. Ele é a única pessoa com quem posso falar longamente sobre o assunto. Ele também atende aos requisitos listados no livro. Eu esperava que ele se juntasse a mim para uma sessão de sono e me ajudasse a entender o que estava acontecendo.
Liguei para o Geovane e contei tudo a ele. Ele ficou em êxtase (como eu sabia que ficaria) e concordou em me encontrar na minha casa na noite seguinte. Em sua mente, isso iria acontecer sem problemas. Eu não estava completamente convencido disso ainda. Eu estava feliz por ter mais alguém para me acompanhar nessa jornada. Avanço rápido para a noite seguinte. Estávamos prontos, nos deitamos em extremidades opostas da sala em minhas duas poltronas reclináveis, e então partimos. Foi quando as coisas deram uma guinada para o bizarro. Não tive um episódio de paralisia do sono imediatamente, mas acabei acordando algumas horas depois. Percebi que Geovane estava dormindo profundamente na poltrona do outro lado da sala. Precisando esvaziar minha bexiga, passei por ele para chegar ao banheiro, tropeçando em suas pernas no processo. Ele acabou caindo no chão e me virei para ver se Geovanne tinha acordado. Para minha surpresa, ele não tinha. Eu sabia que ele tinha um sono pesado, mas mesmo ele deveria ter acordado, dada a queda. Ficando preocupado, eu chamei seu nome. Nenhuma reação. Tentei sacudi-lo. Nada. Agarrei um pulso e verifiquei seus batimentos cardíacos. Estava lá, embora fraco. Foi quando eu entrei em pânico.
Corri para o meu quarto, peguei meu telefone e quando estava prestes a ligar para emergência, ouvi um suspiro alto vindo da sala, como um mergulhador subindo para respirar. Corri para lá o mais rápido que pude e, para minha alegria, Geovane estava acordado. Ele olhou para mim com os olhos arregalados e disse: “Funcionou pra caralh*!”
Fiquei pasma. Embora Geovane fosse um crente entusiasmado demais e às vezes totalmente teimoso, ele não era mentiroso. Perguntei-lhe mais de uma vez se ele tinha certeza de que não era um sonho e ele insistiu que tinha certeza absoluta. Entre sua firme convicção, não tive escolha a não ser acreditar nele. Afinal, parecia que o livro era legítimo.
Passamos as próximas horas conversando sobre isso. Depois de deixar seu corpo, Geovane se viu na minha sala de estar, mas era visivelmente inanimado. Tudo estava perfeitamente parado; nem mesmo uma partícula de poeira flutuando no ar. Geovane também notou que seu corpo era translúcido; um contorno branco de sua forma anterior. Ele tentou abrir a porta da minha casa, mas a maçaneta não girava e a porta não se movia. Demorou um pouco para perceber isso, mas ele descobriu que sua nova forma lhe permitia passar pelas paredes.
Geovane continuou me dizendo que o mundo lá fora era muito diferente do nosso. A natureza estática de tudo faziam com que parecesse estar preso em uma fotografia. Tentei imaginar, mas sabia que precisava ver por mim mesmo.
Fizemos planos de voltar a dormir e entrar no mundo juntos. Apesar da minha empolgação, consegui fazer minha primeira partida bem-sucedida naquela noite. Geovane estava esperando por mim no quarto, ao lado de seu corpo adormecido. Ver a nós mesmos assim era fascinante por si só, mas eu queria mais do que tudo ver o mundo lá fora; um mundo onde a aventura e a descoberta nos esperavam.
Por algumas semanas, Geovane dormiu na minha casa e exploramos o novo mundo. Foi divertido e absolutamente viciante. A curiosidade foi o que nos fez continuar – queríamos saber mais e mais sobre o estranho reino que havíamos descoberto. Aqui estão apenas algumas das coisas que aprendemos durante nossas excursões:
– A iluminação é fixa. Sempre parece ser meio-dia, embora não haja sol no céu.
– É impossível passar por prédios mais antigos. Não sei por quê.
– Não existem formas de vida, assim como o livro afirma, nem mesmo animais ou insetos.
– O som é reverberado. Sempre há um leve eco quando Geovane e eu conversamos.
– Dá para dormir lá, mas não vai sonhar.
– Se você viajar muito longe de seu corpo, você atingirá uma 'parede invisível' e não poderá ir mais longe.
– O tempo não passa no mundo real enquanto você está ausente.
Após cerca de um mês de partidas bem-sucedidas, as coisas mudaram. Quanto mais explorávamos, mais desconfortável eu me sentia. Sempre parecia que algo estava nos observando, mesmo que não houvesse ninguém por perto. Geovane era o oposto. Nossas aventuras noturnas estavam se tornando tão rotineiras para ele que ele estava ficando entediado. Ele continuou falando sobre água e como queria ver mais de perto a lagoa perto da estrada principal. Lembrei do aviso do autor, mas isso não pareceu incomodá-lo. Uma noite, ao deixar meu corpo, Geovane não estava na minha sala me esperando. Atravessei as paredes da minha casa e corri para o lago próximo. Ele estava lá, parado na ponta do lago.
“Geovane! O que você está fazendo?!"
"Não há nada a temer. É só água.” Disse ele.
Observei enquanto Geovane se abaixava e tocava a superfície do lago. A água se mexeu. O cabelo da minha nuca se arrepiou. A água não deveria ter reagido. Estávamos lá há semanas e não tínhamos visto uma única coisa se mover. Até o ar estava parado.
Perplexa, comecei a caminhar em direção a Geovane. Ele ergueu a mão, tão impressionado quanto eu. Quando ele puxou o braço para trás, a ondulação se expandiu. Com ela, uma pequena porção da água escureceu. Depois de alguns momentos, algo saiu da escuridão. Foi uma mão. Uma porr* de mão não humana. A mão se estendeu e agarrou a perna do Geovane, puxando-o para dentro do lago. Ele entrou de cabeça na água, tentando se segurar na borda para salvar sua vida. Enquanto ele gritava, corri em sua direção. Antes que eu pudesse chegar em sua posição, eu o observei desaparecer na água. Corri o resto do caminho, mas a escuridão havia diminuído e voltou ao normal. Meu melhor amigo se foi.
Em um estado de pânico induzido pelo medo, eu fugi. Eu queria salvar o Geovane, mas não sabia como. Além disso, senti que, se entrasse novamente em meu corpo, talvez o encontrasse, acordado no mundo real. Era uma ilusão, mas era tudo que eu tinha. Esse pensamento positivo caiu por terra quando acordei. Geovane ainda estava inconsciente. Tentei e tentei, mas não consegui acordá-lo. Por fim, liguei para emergência e ele foi levado em uma maca. Os médicos dizem que ele está em coma, mas não conseguem discernir o que o causou.
E isso é tudo. Estou abalada com o que aconteceu. Já tentei visitar ele no hospital, mas não consigo encarar os pais dele, e eles sempre estão lá. Em vez disso, vou para a lagoa no mundo real, esperando que, de alguma forma, encontre respostas. Tudo o que acabo encontrando são mais perguntas. Elas me mantêm acordada à noite, junto com um pesadelo recorrente repetindo os eventos daquele dia. Eu tentei partir desde então, mas sem sucesso. Algo está me segurando. Pode ser medo.
Esse mundo é como uma fotografia; um quadro imóvel de um lugar que nunca deveríamos ver. Um momento congelado no tempo com uma camada de realidade removida – e algo está vivendo lá. Apesar dessa verdade, sinto a necessidade de mergulhar de volta e salvar meu amigo. Ele não deu ouvidos ao aviso do autor, mas eu sou a razão pela qual ele entrou naquele mundo em primeiro lugar. Eu sou a razão pela qual ele não consegue acordar.
Eu tenho que voltar.
Wau, eu quero ouvir mais dessa história, como estão as coisas agora, Geovane já acordou... E mais, você já pensou em procurar Jack Grovewood?! Meu WhatsApp +244 939 141 797
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